quarta-feira, 9 de março de 2016

Saúde dos meninos- Alerta para as mamães


Então. O Nícolas é o terceiro filho de uma enfermeira...

O Nícolas tomou as vacinas. O pré natal da gestação dele foi mais por telefone do que presencial. Nos primeiros 4 meses ele fez as visitas ao pediatra, estava tudo bem. Daí para frente, ele tinha problemas que uma amiga rezadeira resolvia, e quando ela não resolvia, eu medicava. Quando você está no terceiro filho, não precisa ser enfermeira para saber as doses das medicações para qualquer problema, sendo enfermeira então... Bom, o Nícolas teve a descida dos testículos antes do terceiro mês de vida, bem como o Eduardo.
Nos primeiros anos, os banhos eram dados por mim e pela babá. Nada de diferente. O mesmo esquema de arregaçar o prepúcio e lavar a glande. Não tiveram fimose.



Tudo certo até então. Logo o Nícolas já tomava banho sozinho e era muito asseado, mais que os irmãos. Não tinha porque me preocupar.
Às vezes eu achava a bolsa escrotal dele muito encolhida, mas no frio, isso é normal, até onde eu sabia. Mas certo dia de calor, ele com 7 anos, vi que à esquerda, o saquinho dele estava murcho e à direita não. Fui palpar... cadê um testículo? Sumiu? Sumiu!
"Ah, mamãe, faz um ano que eu tenho uma bola só!"
Bom, ele não tem muita noção de tempo. Seis meses? Um ano? Dois anos? Não sei!

Comentei com médicos e enfermeiros do meu setor e um deles me jogou a seguinte pérola:
"Meu filho teve criptorquidia quando pequeno. E esse problema está associado ao câncer de testículo na vida adulta."

É fácil dizer uma coisa dessas a uma mãe e depois se excluir de qualquer discussão sobre o assunto.
Fiz o que faz uma enfermeira, pedi a outra médica um pedido de ultrassom e uma tomografia.


Bom, foi isso. Comecei uma série de consultas com pediatras e cirurgiões pediátricos e uma procura incessantes sobre o problema. Criptorquidia? Testículo ascendente? Testículo retrátil? 
Tudo isso começou ano passado e até agora não sei qual foi o problema do Nícolas. O negócio é que tinha que operar e colocar o testículo no lugar. Mas e o câncer de testículo? Quais as chances, as probabilidades dele ter câncer na vida adulta?
Tudo o que descobri foi, em fontes desatualizadas que 5% dos homens no Brasil desenvolvem câncer de testículos, que o tratamento é quimio ou radioterapia, além da remoção do testículo. Que esses tratamentos deixam o testículo bom infértil e que 350 homens morrem de câncer de testículos no Brasil anualmente. Quase um homem por dia!!! Mas quantos desses homens tiveram o problema do Nícolas e tiveram câncer na vida adulta? Fonte nenhuma! Chega de estudar, vou falar com doutores, com especialistas. 
O primeiro já foi me dizendo, na frente do Nico que a 'bolinha dele estava atrofiada e não faria mais bebê'. Foi exatamente com essas palavras, para que o Nícolas entendesse que ele não faria filhos com um testículo...
Depois fui atrás dos pediatras e cirurgiões do meu trabalho. 'Então vamos remover esse testículo, afinal, vocês operam a criança, colocam o testículo no lugar, resolvem o problema a curto prazo, depois esquecem daquela criança. Ele vai virar um homem adulto e vai ter câncer?'
Todos achavam um absurdo a minha idéia. Nós vivemos com um ovário só, produzimos hormônios, engravidamos, por que um menino não pode ficar com um testículo apenas?
Segui pesquisando com pediatras e livros de fisiologia. E nada!
Só me falavam na questão psicológica de se ficar com um testículo só. Eu não queria saber da questão psicológica! Há testículos de silicone, nada que uma cirurgia plástica não poderia resolver quando ele chegasse na vida adulta.
Eu perguntava: "O que vai acontecer se removermos um testículo? Ele vai ficar baixinho? O pênis dele vai ficar pequeno? É isso que eu quero saber! Você não sabe, doutor? Você não deveria saber?"
Nenhum pediatra ou cirurgião pediátrico sabia! Nenhum livro de anatomia e fisiologia respondia!
O pai das crianças me rechaçava, não queria saber, não queria ouvir falar! Foi uma angústia que carreguei sozinha, com o pequeno Nícolas confiando cegamente em mim!
Por fim, um médico geneticista, junto com a minha irmã, bióloga geneticista, ambos doutores mesmo, com doutorado e pós doutorado, não responderam as minhas perguntas, tentaram, mas não responderam, e me disseram que eu poderia percorrer o Brasil, o mundo, que eu não encontraria um cirurgião que removesse o testículo do Nícolas.

Chegou o tão esperado e demorado dia, que só não foi mais demorado depois de muitos telefonemas ao SAC e à ouvidoria do convênio, com a única urologista pediátrica do convênio. E o que ela me disse sem rodeio nenhum, quando despejei as minhas perguntas foi: "Não sabemos. Ele vai ter que fazer acompanhamento anual com o urologista pelo resto da vida e não retiramos o testículo." 
Ela pacientemente olhava em meus olhos enquanto eu praticamente gritava as minhas dúvidas, escutou tudo pacientemente e sem rodeio nenhum foi assim que me respondeu. Explicou-me sobre a cirurgia, também falou que na idade dele o problema está associado à hérnia inguinal, pediu os exames pré operatórios e marcamos a cirurgia. E 29/02/2016 estávamos eu e o Nico no Centro Cirúrgico. Só nós dois. Ler a postagem Solidão de Mãe, publicada na véspera da cirurgia, em 28/02/2016.





Ontem fomos no retorno. Os pontos estão cicatrizando bem, o Nícolas não sofreu muitas dores. Ele está bem. Muito bem. 
Nesse retorno havia crianças com pai e mãe ou só com o pai, aguardando atendimento. Ele olhou e disse: "Que dó de quem não tem pai!" Olhei ao redor e vi que só ele estava apenas com a mãe, só ele estava sem pai..." Respondi: "Seu avô não pode vir, ele tinha que levar e buscar seus irmãos na escola. Mas seu pai vai te trazer no retorno". Ele sorriu.


Escrevo isso para que mães não passem pelo aperto que passei. E caso passem, saibam que não estão sozinhas. E para que os homens façam o autoexame dos testículos, façam ultrassonografia, caso haja algo de diferente, visitem o urologista.



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