domingo, 28 de fevereiro de 2016

Solidão de Mãe

Tudo o que eu mais falei nesse blog de assuntos variados foi sobre as dificuldades de se criar os filhos sozinha. Não posso reclamar da vida. Há mulheres com maiores dificuldades do que eu. Tenho meu generoso e bondoso pai, tenho uma irmã que vem de longe na hora do aperto, quase sempre dei sorte com babás. Então, tudo poderia ser pior.
Mas há coisas que machucam, que doem...
Quando o Eduardo operou as amídalas e adenóide, eu estava casada. Eu e o pai deles fomos juntos e lá ficamos. Já quando ele teve a primeira crise asmática grave, já estávamos separados, levei o Edu de táxi para o convênio, ele recebeu atendimento e quando vieram atrás de mim, que estava ao lado dele, para preparar a internação dele, eu desabei em lágrimas. Lágrimas de solidão. Senti-me como uma criança cuidando de outra... E fiquei lá com ele por 4 dias, tomando banho e vestindo a mesma calcinha e as mesmas meias, noite e dia, fiquei fedendo. Ainda bem que havia meu pai e babá para cuidar dos outros. No dia da alta, estava sem dinheiro para táxi, e pedi ao pai deles que nos buscasse. Foi tanto arrependimento, foi feito um clima tão desagradável desnecessariamente, que eu deveria ter entregue o guri para ser trazido e voltado a pé, do Cambuci até Santo Amaro... teria sido melhor...
E sempre segui cuidando e fazendo o possível, levando para médicos, dentistas, oftalmos, foram momentos de correria e cansaço, mas sem estresse. Deu pra levar razoavelmente bem ( Leiam a postagem Somos quem Podemos Ser, de 25 de janeiro de 2015).
Passei aperto semelhante com a Melissa, mas menos grave. Tive que correr do trabalho e passar a noite no hospital, depois na volta, cansada e motorista limitada,  me perdi com ela pela cidade, tomei um susto ao vê-la dormindo com a cabecinha pendurada e balançando, tive que parar o carro para verificar se estava viva, desmaiada, dormindo. E o susto me fez precisar da ajuda de um amigo, por telefone, pra me ajudar a chegar em casa. Fora a vez que um primo sádico (lado paterno) deslocou o bracinho dela e sobrou para mim segurá-la, enquanto o ortopedista tracionava o membro pro lugar. Meu chefe da época pacientemente esteve comigo.

Quatro anos depois, eu estava de plantão e o Eduardo teve outra crise, muito pior. Abandonei o plantão e quando cheguei em casa, depois de ter presenciado óbitos de crianças com o mesmo quadro do Eduardo, tive medo de colocá-lo no carro ou num táxi e levá-lo. Chamei o SAMU. Na ambulância pelo menos ele poderia ir recebendo oxigênio e ele precisava mesmo, pois estava com uma saturação de oxigênio abaixo de 80% (quando o normal é no mínimo 94/92%). Fomos precariamente atendidos no UPA. Na minha visão de enfermeira eles não estavam muito preparados para atender urgência (Imaginem uma emergência! Isso porque eles são geridos pelo Hospital Israelita Albert Einstein e o pessoal também é contratado e pago pelo mesmo. Diga-se de passagem que quando a ambulância chegou, os profissionais sumiram e o primeiro atendimento foi dado por mim e pela profissional de enfermagem do SAMU, até que uma alma desse as caras e escutasse eu dizendo: "Oi, eu sou a MÃE! Cadê médicos, auxiliares e enfermeiros???). Então ele recebeu um bom atendimento e pela manhã foi transferido para o Pronto Socorro Infantil do hospital em que trabalho e de lá, rapidamente ele foi para o andar. Eu já estava acordada há umas 36 horas a essas alturas e, sabendo que ele ficaria por uns dias, liguei para o pai dele e pedi que viesse ficar com ele, para que eu pudesse tomar um banho, pegar roupas íntimas para nós dois, ver meus outros filhos e voltar para junto do Edu. O pai não podia. Estava de serviço... suspiro...

Eu pergunto: Que pai que não é liberado do serviço quando o seu filho é levado pelo SAMU para um hospital, numa urgência e lá vai ficar internado??? Se alguém puder me dar uma resposta plausível, eu agradeço, pois, me desculpem o linguajar, eu não estava dando a bunda, eu abandonei o plantão com ciência e autorização da minha supervisora de enfermagem para prestar socorro ao meu filho. Depois minha escala foi rearranjada pela minha chefe imediata, para que eu pudesse assistir os cuidados e estar com ele, mas eu precisava buscar roupas, tomar banho, ver os outros dois...
Quem veio foi um amante com quem eu havia brigado poucos dias antes e disse que não queria nunca mais vê-lo. Esse homem a quem eu ajudei muito fez uma única boa ação para mim, a qual eu sou muito grata até hoje, terminado o relacionamento. Largou o seu trabalho (coisa que o pai não podia fazer) e veio ficar acompanhando um menino que não era filho dele, para que eu pudesse me organizar. No terceiro dia, foi minha irmã quem faltou ao trabalho dela para permanecer com o sobrinho. E enquanto tudo isso acontecia, meu pai, junto à babá cuidava para que os outros fossem à escola e corresse tudo bem.

Tantos amigos meus foram visitar o Edu. Todos.

Numa noite o pai veio visitar. VISITAR!!! 
Saí, fui dar uma volta pelo hospital, para dar privacidade a pai e filho. E para meu espanto, após 15 minutos o pai ligou no meu celular avisando que precisava ir embora. Visitinha de 15 minutos no hospital onde o filho está internado??? Alô produção: pode isso???

Então, no dia seguinte revoltada liguei para ele e o ameacei: disse que eu precisava deitar meu corpo na minha cama, que precisava estar com meus outros filhos, que estava cansada e que se ele não passasse uma noite com o filho, ele já podia entrar com uma ação contra mim na justiça, pois eu o impediria de ver as crianças até que ele ganhasse a ação. E ele foi. Acho que nem tanto pela minha ameaça, acho que mais por algum conselho da mãe dele. Foi passar a noite com o filho que eu não fiz com o dedo... E no dia seguinte, o Eduardo que não conseguia manter uma saturação boa sem máscara de oxigênio, ficou bem e teve alta... Não preciso nem comentar para os que tem uma visão holística que o Eduardo precisava da atenção do pai dele.

Nesses dias vi mães com seus filhos, que tinham outros filhos. Deixaram seus outros filhos com avós ou vizinhos... E quando iam ver como estavam seus outros filhos, tinham que abandonar os filhos hospitalizados. Foram momentos em que eu deixava o meu por uns 20 minutos para dar uma olhadinha, acalmar o choro dessas crianças que ficavam com medo por estarem sozinhas num hospital...

Amanhã o Nícolas vai fazer uma cirurgia. Depois vou fazer uma postagem sobre isso, mas vai ser uma postagem sobre saúde. De interesse para pais e mães. Então, não vou nem falar aqui sobre o que ele vai operar. Só comento que fizemos uma via crucis por médicos, com ajuda de meus padrinhos, pois até para Campinas fomos. Vários exames. O Nico sempre com medo, medo de tomografia, medo de ultrassonografia, medo de médicos, medo de injeções... sempre nós dois. Só nós dois. Consegui arrancar do pai dele que o levasse para um exame de sangue e ainda tive que orientá-lo a abraçar bem o Nico, pois o pequeno faz escândalo, chora, e o pai não sabia disso. Mas foi, com dor no bolso, mas foi.
Avisei sobre o dia e a hora da cirurgia para a família paterna, por obrigação e um pouco na esperança de que algum deles se organizasse para estar conosco. Mentira. Eu não tinha a menor esperança. Foi gozação. Eles esqueceram, ou fizeram que esqueceram...

E amanhã, as 6h da manhã, estaremos eu e o Nico no hospital, só eu e o Nico. Ambos cheios de medo. O Nico é muito medroso, tadinho. E eu sou mãe. 

No fundo eu sei que será uma cirurgia simples e rápida, sei que vai dar tudo certo. Mas ele vai tomar dormonid antes da cirurgia. Eu não gosto de dormonid, das vezes em que passei por procedimentos em que precisei tomar, senti agonia da morte. Há pessoas que não sentem isso, há outras que sentem... não quero que o Nico sinta. Ele vai tomar anestesia geral, que como toda anestesia tem riscos... Eu não preciso vê-lo para imaginá-lo entubado. Eu estarei com ele no Centro Cirúrgico até ele entrar na sala de cirurgia, e estarei com ele na sala de recuperação anestésica, onde eu já estive com minha mãe e presenciei ela tendo uma reação anafilática, quando até ajudei na assistência dada a ela. E foi horrível pra mim, foi traumatizante. Ser Enfermeira nessas horas talvez seja até pior...
Não sei se ele receberá alta no mesmo dia. Creio que sim. Então fico pensando como vou colocá-lo no táxi sem machucá-lo, porque ele está pesado para mim...
E já chorei por alguns momentos e espero conseguir sorrir e conter as lágrimas de solidão e medo quando eu estiver lá.

Então há pessoas que não falam, mas me olham diferente quando expresso minhas revoltas com o pai dos meus filhos. Já houve quem teve a ousadia de afirmar que eu tenho algum sentimento por ele. Tenho sim, mas é um sentimento que não cabe aqui falar, mas não é de amor, nem ódio. É aquele sentimento que você tem ao observar um animal morto, em avançado estado de putrefação.

Espero que quem leia este post entre hoje e amanhã, faça as orações de sua fé, envie boas vibrações para o Nico e para mim.

Um dia, daqui a muitos anos, essas postagens sobre a minha vida de mãe solteira vão se tornar um livro. Espero que seja um livro de final feliz, com filhos adultos, bem formados, bons profissionais, bem resolvidos e de uma mãe orgulhosa. E espero que sirva para mães solteiras, divorciadas e para que os pais saibam que suas obrigações com os filhos continuam depois do divórcio.

Essa história de alienação parental para mim é algo muito complicado. Há mulheres que usam de má fé contra pais por vingança, sentimentos feridos, não pensam no estrago que estão fazendo na vida dos filhos, não pensam na maldade que fazem com pais e filhos na formação de seus vínculos. Eu sempre tive a preocupação de não denegrir o pai das crianças para eles, até o momento em que eles mesmos começaram a enxergar o descaso, a falta de cuidados, a avareza e começaram a expressar isso. Também não acho justo mulheres, mães, passarem pelo que eu passo e por situações até piores e terem ainda (por lei) que manter uma bela imagem dos pais, guardando um engasgo dentro do peito.
Hoje eu já não ligo muito para isso. Tentei várias vezes por o pai das crianças para participar da vida deles, dos cuidados, como uma forma de ajudar no vínculo deles, pelas crianças e até por ele mesmo e ouvi muitos "se vira",  "estou de serviço" e até xingamentos.  Fiz por mim também, porque sou uma só, porque também trabalho para prover, porque também me canso, porque são três filhos...
Hoje eu não ligo, desabafo com meu pai, minha irmã, com a babá, evito que seja na frente deles, mas se eles escutam, não esquento a cabeça. Quer me processar, vai fundo. Pegue a guarda, peça pensão e faça melhor. #SQN

Dias atrás conversando com um amigo muito querido, de muitos anos, ele contou que ao separar a filha dele tinha 3 anos e ele procurou ser um pai presente (e eu sei disso, acompanhei isso). Mas, segundo ele, não foi o suficiente. E hoje, com a filha adolescente, com 16 anos, ele escuta cobranças dolorosas para ele, mas não tira a razão da filha. 

Agora a pouco, eles chegaram da casa do pai e o Nico me disse: " O papai disse que vai ligar amanhã e depois de amanhã pra saber como foi a minha cirurgia". Fiz com que as crianças saíssem, liguei para o pai deles e falei calma e resumidamente tudo o que escrevi aqui. Ele escutou calado, o que me causou espanto, pois ao lado da esposa, ele gosta de fazer uma cena. Agradeci pela atenção e desliguei.

Oiiiii!!! Seu filho vai passar por uma cirurgia, vai tomar anestesia geral e ser entubado, depois eu não sei como vou carregá-lo sem machucá-lo, pois ele está pesado para mim da cadeira de rodas para o táxi e do táxi para o quarto de casa que é sobrado. Ele está com medo e eu também! E você vai ligar pra saber como foi??? Não será um passeio nem uma viagem de férias para você simplesmente telefonar para saber como foi!!! 
Não foram essas as minhas palavras para ele, mas garanto que fui educada. Essas, eu deixo para os leitores.

Então, por enquanto, encerro por aqui, deixando para reflexão.


Um comentário:

  1. Mulheres Militares(Autor: Meu Rei Recife)
    Coturnos bem engraxados.
    Vinco na calça passada,
    Com o Toque d’Alvorada
    Valentes marchem soldados!

    Ao defender nossa gente,
    Ordem pondo neste lugar,
    Sem o velho charme largar...
    A missão cumpre contente.

    Com arma metralhadora,
    A dama batalhadora
    Apresenta também fuzil.

    Amazonas lindas do bem
    Flores, mas, escudos também,
    São o orgulho do Brasil.

    Mulheres Militares(Autor: Meu Rei Recife)
    Coturnos bem engraxados.
    Vinco na calça passada,
    Com o Toque d’Alvorada
    Valentes marchem soldados!

    Ao defender nossa gente,
    Ordem pondo neste lugar,
    Sem o velho charme largar...
    A missão cumpre contente.

    Com arma metralhadora,
    A dama batalhadora
    Apresenta também fuzil.

    Amazonas lindas do bem
    Flores, mas, escudos também,
    São o orgulho do Brasil.

    O Dragão e as Rosas(Autor:Meu Rei Recife)
    Ser alado cuspindo rosas.
    Chamas de fogo do bom amor,
    Medieval desejo belo.
    Entregarei o meu castelo
    Talvez por culpa desse calor...
    Exalando perfume raro
    Na roupa de tom amarelo
    E de labaredas formosas.
    Ardentes pétalas aparo;
    Rosa de fogo és da mulher.
    Fogosa mulher és a rosa!
    Eu sou teu dragão encantado.

    Cantiga de Éolo(Autor: Meu Rei Recife)
    Eu sinto vontade de ser o vento
    Sobrevoando nações,
    Resfriando sertões,
    Ser amigo das chuvaradas,
    Ser amigo dos trabalhadores,
    De alisar os cabelos delas.
    Eu sinto vontade de ser o vento
    Amigo dos passarinhos,
    Dos bons cheiros
    E até fedores...
    E fazer ondinhas
    Nas águas dos rios...
    Bocejar ares de amores.
    Aumentar o fogo das fogueiras
    E de perto, do São João, ver as cores.
    Eu sinto vontade de ser o vento
    E ajudar as jangadas,
    Balançar os coqueiros
    Das praias enluaradas,
    Levar minhas brisas
    Em tardes acaloradas,
    Eu sinto vontade de ser o vento
    O furacão das mudanças,
    A soprar...
    A Soprar.

    Postado a pedido do meu querido amigo Meu Rei Recife. Agradeço de coração. Todos Lindos!

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