domingo, 25 de janeiro de 2015

Somos quem podemos ser

Tem horas que dá vontade de ser duas!
Quantas vezes amigos me chamam pra dançar e não posso, estou de plantão? Ou sem $$$? Mas se o pior fosse esse, tava bom.
O Eduardo agora vai estudar das 7h da manhã ao meio dia. E os menores das 13h as 17h. Os menores vão continuar fazendo academia de manhã. E o maior a tarde. Vai ficar mais puxado pra babá e para mim. Até meu pai vai entrar na roda: quando eu estiver voltando de plantão ele quem vai levar o Edu pra escola. Quando eu estiver indo pro plantão a babá vai levar o Edu de trem para a academia e de lá eles vão ter que literalmente sair correndo pra buscar os menores na escola. Nas minhas folgas, a via crucis será minha: levar o maior as 7h pra escola, então ir pra academia com os menores, buscá-lo ao meio dia, dar almoço, levar os menores pra escola, levar o maior pra academia enquanto a babá busca os menores ou vice e versa...
Todas as vezes em que tentei incluir o pai de meus filhos nas tarefas a resposta mais educada foi: 'Meu horário de trabalho não permite'. E a menos educada foi: "Não dá conta? Dá a guarda pra mim!" Como se ele quisesse de fato a guarda dos filhos, como se eu tivesse tomado a guarda à força. Como se eu o impedisse de participar da vida das crianças. Como se ele fosse um pai amoroso, que adora conversar e estar com os filhos...
A impressão que eu tenho às vezes é a de que ele quer ver se eu consigo me virar. E aos trancos eu consigo. Não sai perfeito. Nem sempre as coisas saem como eu e as crianças gostaríamos. Mas sai a contento. E eu acho que ele morre de raiva.
Besteira isso. Seria muito melhor para as crianças e até para ele se ele participasse.
Esses dias a avó paterna de meus filhos me perguntou se poderia pagar e levar a Melissa ao psicólogo. Respondi que até poderia, mas que eu achava que o dinheiro dela seria melhor investido se ela levasse o filho dela, pai de meus filhos a um psicólogo. Eu sei que se a avó de meus filhos morasse em SP, ela me ajudaria com esses afazeres, que em parte são obrigações do pai deles. Mas ela não mora. E meu pai já faz mais do que o peso da idade lhe permite.
Um dia lamentei com meu primo que gostaria de poder levar as crianças à academia todos os dias e não dia sim, dia não, que é o que dá pra fazer com os meus horários. Ele me disse pra não me culpar, que era obrigação do pai deles levá-los quando eu não podia. Isso serviu de consolo. Eu sou a mãe que eu posso ser.
Em dias de chuva, chego atrasada no serviço, pois não tenho coragem de deixá-los voltarem a pé da escola debaixo de chuva, é até perigoso, às vezes alaga, tenho medo que algum deles caia num bueiro!
E esses dias a Melissa postou no facebook a seguinte charge:
Só que ela escreveu o seguinte comentário: "Com a minha mãe é 'alcomtrário'...O meu pai fica todo vestido e a minha mãe toda pelada".

Crianças não são bobas. Vão crescendo e vão enxergando...
Sim, eles recebem pensão alimentícia (pensão essa que eu tive que brigar na justiça para conseguir). Não é uma pensão miserável, é razoável, embora o Leão morda R$500,00 dela por mês. Só que são 30% do salário dele, nem um centavo a mais e 98% do meu salário com as crianças, às vezes 100%, como comentei em postagem anterior. Eu não tenho notebook, tablet, smarthphone, iphone, whatsapp, nem sei o que são essas coisas. E eles não tem o Xbox que todos os amiguinhos deles tem.
Mas somos felizes assim mesmo.
Eu não sou a única mãe nesse mundo que se vira sozinha com os filhos. Aliás, eu não me viro sozinha, eu tenho e tive boas babás, eu tenho meu pai.
Hoje eu não me culpo, eu faço o que posso, mas ainda fico revoltada. Se tivesse uma participação do pai, eles seriam mais felizes, eles aproveitariam mais do que a vida pode lhes oferecer, do que os pais podem lhes oferecer, praticariam mais esportes, quem sabe fariam mais cursos, como de idiomas, sentiriam mais a presença paterna em suas vidas. Porque levar aos finais de semana e ficar dando ordens e broncas não educa ninguém.

Como diz a música: "Somos o que há de melhor / Somos o que dá pra fazer" (3X4- Engenheiros do Hawaii)