segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

FILHOS (José Saramago)

Recebi esse e-mail de minha amada madrinha e psicóloga, Tia Marga:

Filhos são do mundo (José Saramago)


Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los autônomos, libertos, até
de nossas ordens. A partir de certa idade, só valem conselhos.
Especialistas ensinaram-nos a acreditar que só esta postura torna adulto
aquele bebê que um dia levamos na barriga. E a maioria de nós pais
acredita e tenta fazer isso. O que não nos impede de sofrer quando fazem
escolhas diferentes daquelas que gostaríamos ou quando eles próprios
sofrem pelas escolhas que recomendamos.

Então, filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de
como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores
defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter
coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.

Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo! Então, de quem são nossos filhos? Eu acredito que são de Deus, mas com respeito aos ateus digamos que são deles próprios, donos de suas vidas, porém, um tempo precisaram ser dependentes dos pais para crescerem, biológica, sociológica, psicológica e emocionalmente.

E o meu sentimento, a minha dedicação, o meu investimento? Não deveriam retornar em sorrisos, orgulho, netos e amparo na velhice? Pensar assim é entender os filhos como nossos e eles, não se esqueçam, são do mundo!

Volto para casa ao fim do plantão, início de férias, mais tempo para os fllhos, olho meus pequenos pimpolhos e penso como seria bom se não fossem apenas empréstimo! Mas é. Eles são do mundo. O problema é que meu coração já é deles!
Santo anjo do Senhor...

É a mais concreta realidade. Só resta a nós, mães e pais, rezar e aproveitar todos os momentos possíveis ao lado das nossas 'crias', que mesmo sendo 'emprestadas' são a maior parte de nós !!! 



"
A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver " 
José Saramago


Ai, até apertou meu coração de mãe ler isso... Eu não enxergava claramente que meus filhos eram EMPRESTADOS...


No início de meu casamento, eu me esmerava para ser uma boa dona de casa. Um dia, enquanto eu passava as minhas roupas, as de meu ex marido e as de meu filho Eduardo então com 4 meses, vi que ele me observava no carrinho e sorria para mim. Ficamos assim por longo tempo: eu passava roupas, ele me observava e sorria e eu retribuía o sorriso. De repente lembrei da história de uma técnica de enfermagem que trabalha comigo, cujo filho morreu por volta dos nove anos, vítima de meningite. Então me dei conta de que filhos não são eternos, e que eles podem partir antes de nós. 
Larguei o resto das roupas por passar, tirei meu filhinho do carrinho e, daquele dia em diante não priorizei mais os afazeres domésticos, mas sim o contato com meus filhos, e os meus prazeres também, afinal, eu também sou mortal e entendi que há obrigações sim, mas há coisas, momentos muito mais importantes e que não podem ficar para depois. Eu já trabalhava fora e muito pra pagar as contas da família junto com meu marido, o resto do meu tempo deveria ser para me divertir com minha família e também para ter um tempo só meu!






















Bom, acabou que não me tornei mesmo uma boa dona de casa, minha maior atenção não era mais essa, a pressão de sogra e de ex marido foi grande, eu não soube lidar com isso, meti os pés pelas mãos, piorei tudo tentando consertar, meu casamento acabou (porque tinha que ser assim), mas eu NUNCA deixei de ser boa mãe, a minha prioridade era e é essa! Nesse  ''curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem'', eu tenho tirado boas notas!

Mas como aceitar que eles não são meus???

Alguns dias atrás, encontrei na formatura de minha menina (olha só, eu digo MINHA menina!) a diretora da escola onde eles estudam, ela elogiou minha boa forma, pois ela me viu com 100kg ao final da gestação do Nicolas e agora me vê com 63kg, ficou impressionada, me elogiou, perguntou o que eu fiz para emagrecer e manter meu peso, então expliquei a ela que segundo os orientais, excesso de gordurinhas, entre outras coisas significa mágoas guardadas, superproteção com quem amamos e etc., mostrei a ela que meus braços ainda são gordinhos, contei que isso é bem coisa de mãe, que 'abraça' os filhos e não quer soltar! Demos boas risadas, pois ela lembrou que tinha braços esguios antes de ser mãe também!
Então ela me perguntou qual era a solução, respondi: DESAPEGO.
Ambas encerramos a conversa com uma dúvida em nossas mentes: 

Como desapegar dos filhos??????

Complicado...

Bom, a vida tem me dado boas lições quanto a isso. Eu e o pai das crianças somos separados. As crianças moram comigo, apesar disso nosso contato não é tão constante quanto eu gostaria, pois trabalho cerca de 17, 18 plantões por mês e eles acabam tendo mais contato com meus pais e com a babá, mas moram comigo. E o pai deles, além de que tem direitos (mais direitos do que deveres, infelizmente), ele quer estar com os filhos, e os filhos querem estar com o pai e com a família paterna. "Dividir" a Mel e o Dudu tem sido mais fácil, embora nas férias eu sinta muitas saudades deles, mas o Nicolas, ah, o Nicolas... Separamos e o Nico tinha 4 meses! E o juiz concedeu a ele o direito de receber visitas do pai até os dois anos e meio, mas sem pernoitar fora. Mas com 1 ano e 9 meses eu percebi que já era hora de o Nico pernoitar na casa da avó paterna nos finais de semana, pois ele ficava muito sentido quando os irmãos iam e ele ficava. Então fui deixando. E foi mais difícil pra mim do que para ele...
E a prova de fogo será nessas férias, em que ele viajará para o interior e ficará fora por 15 dias, eu podia não deixar, o juiz nos garantiu até fevereiro, mas o Nicolas vai querer passar as férias na gandaia com os irmãos e com a família paterna! Acho que para ele será fácil, mais até que para os maiorzinhos, pois o Nicolas não conhece a vida de papai e mamãe casados, morando todos juntos. A vidinha dele é assim desde cedo: uns dias com mamãe, uns dias com papai.

Desapegar não é apenas deixar pra lá, não ver mais. É fácil desapegar de algumas coisas e pessoas, mandar embora, começar algo novo, mas temos que aprender que NINGUÉM É DE NINGUÉM, nem os filhos. Podemos e devemos continuar amando, continuar zelando, cuidando, mas com DESAPEGO. Amando de perto, amando de longe...

Estou aprendendo que meus filhos são emprestados. E há uma sensação de aflição, mas também de que estou no caminho da paz interior. Eles não são meus, eles estão felizes quando estão comigo, estão felizes quando estão longe de mim, e isso é muito bom.


O problema é que meu coração já é deles!


Então só me resta rezar e aproveitar todos os momentos possíveis ao lado das 'crias', que mesmo sendo 'emprestadas' são a MAIOR e MELHOR parte de mim !!! 




MUITO OBRIGADA, TIA MARGUINHA!!!


6 comentários:

  1. Minha querida amiga, hoje do alto dos meus cinquenta e seis anos de vida, pai de três filhos maravilhosos(duas meninas e um menino), tendo a mais nova vinte e seis anos e de um casal de netos lindos, sinto, ao ler tuas postagens, que retorno lá ao começo, desde a gravidez do primeiro filho e venho percorrendo o caminho até hoje, revivendo cada momento e te digo com toda convicção, cada momento passado ao lado dos filhos e um momento inesquecível, acompanhar o crescimento, o desenvolvimento intelectual, as passagens da infancia para a adolescencia, da adolescencia para a fase adulta e depois desses seres surgirem outros seres, os netos, para começar tudo de novo, realmente, amiga, são coisas impagáveis. Beijos mamãe coruja.

    ResponderExcluir
  2. E dizem que ser avô/avó é mais gostoso, né amigo? Pois os avós não têm a obrigação, o compromisso de educar e de sustentar, mas sim de alegrar, contar histórias, viajar nas fantasias deles.
    Lendo esse texto de José Saramago e o que você postou, refleti e concluí que eles não são mesmo nossos... NÓS É QUE SOMOS DELES!!!
    Beijos, Paizão!

    ResponderExcluir
  3. Essa mensagem foi uma das mais bonitas que ja postou na taverna...
    Ate chorei imaginando minhas bebes(minhas bebes, uma ja tem 13 anos)indo embora, que dor no coração, dor na alma,mas estou preprarada para isso, sempre falei que criamos os filhos pro mundo, as deixarei partir, levando sempre a certeza que me terão sempre que precisarem, terão um chocolate quentinho sempre que o mundo for frio demais para elas, eu estarei aqui, mesmo depois da minha partida, mesmo que em recordação, sabe porque seremos lembradas por eles como os melhores momentos, como as mães maravilhosas que somos, seremos lembradas pro detalhes.
    Mas como não amar, como não dar minha vida pro elas, meus amores, meu tudo.
    Beijão adorei

    ResponderExcluir
  4. Pois é querida, você é mãezona como eu, outra corajosa!
    Hoje os meus vão para a casa da avó no interior e só me resta sorrir e abraçá-los com o coração apertado, pois agora só voltam ano que vem!
    Buáááááááááá!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  5. Que delíciaaaaaaa, seus pimpolhos!!!!!!
    Um beijo querida. Adorei o post.

    ResponderExcluir
  6. Obrigada, querida amiga! Sua visita em meu blog é uma honra!!! Beijos!!!

    ResponderExcluir